Gosto de conversas descontraídas até às 6h da manhã.
Com arranjos de bicicleta falhados.
Com chapéus-de-chuva esquecidos.
Até chover.
Até ficar dia.

San Luca

Dia 8 de Setembro vim ver a minha casa pela primeira vez e tive um bom feeling. Como queria mesmo vir para cá morar, fiz uma promessa: subir a pé até às colinas de Bologna, mais precisamente ir até San Luca.

Na verdade já sabia que o faria, quer ficasse com a casa ou não. Mas o que também é bem verdade é que fui adiando adiando e só hoje é que lá subi.

O dia estava quente. Para mim ir às 4h da tarde parecia cedo demais, porque o sol queimava e abafava a respiração. Como as 4h nunca são 4h, às 10 para as 17h lá começámos a subir.

A companhia era boa, o à-vontade mais que muito, apesar das nossas vergonhas parvas para tirarmos fotos. Caminhámos através 4km de 666 arcos de pórticos (com um bocadinho de batota, vá), passámos pelo estádio que eu pensava que fosse muito mais longe, conversámos, fomos ultrapassados por umas velhotas, mas chegámos à ansiada San Luca.

As cores fascinam-me, a vista é imperdível, as colinas que se perdem de vista. A conversa sobre fazendas, sobre tudo e mais alguma coisa. A basílica ainda aberta, a Madonna que lá estava, a luz natural a iluminar o altar. O giro giro que fizemos. A fonte com água fresquinha, o banquinho e depois o abismo onde estava mais calor. Sem darmos por isso, começou a ficar fresquinho, as nuvens pretas a chegar e decidimos descer. Cá em baixo, no centro, esperava-nos chuva e um vendaval. Esperava-nos um cisto no olho e uma engasgadela na paragem do 20.




Chegámos sãos e salvos. E mais um check positivo nas coisas a fazer em Bologna. :)

b-a-ba

Bologna pode ter demasiada chuva no Inverno e demasiado calor no Verão. Aliás, pode nem ter meias estações. Bologna pode ter exames que se chumbam e exames que mudam de dia sem razão nem pré-aviso. Bologna pode ter pessoas irritantes e pode ter noites odiosas de Erasmus. Bologna pode ter momentos de solidão e momentos de companhia excessiva. Bologna pode ter excessos vários e bloqueios exagerados. Pode ter uma casa não tão limpa como eu queria. Pode ter mau feitio de vez em quando. Pode ter preguiça. Pode ter muitas saudades. Pode ter entregas exageradas e afastamentos ridículos. Pode ter dúvidas, riscos, pode ter medos.

Mas Bologna tem também das melhores pessoas. Das melhores descobertas, internas e gerais. Tem conquistas, tem sorte. Bologna tem o Giardini, tem as Piazze cheias de gente, tem encontros e desencontros, tem aprendizagens, tem saudades boas, tem riscos bons, tem equilíbrio, tem auto-conhecimento e fidelidade. Bologna tem-me a mim, tem uma parte gigante de mim. Bologna sou eu. E Bologna traz apertos quando se está melancólica, traz vontade de não acabar nunca. Bologna é vontade de manter estas pessoas, estes lugares, estas rotinas, este crescimento, este calor, este temporal, este sentimento. Esta busca. Sempre.

Bologna não pode acabar.

Não aguento este calor.

21 !

Fiz anos, mas não dei por eles. As visitas encheram-me o coração, apesar de fulminantes. A Ana e a Carlota chegaram com as suas respectivas amigas, e foi mesmo bom tê-las cá de volta, não haver cerimónias, serem da casa. Mas é estranho vê-las ir embora e ter tido pouco tempo para conversar como deve ser. Assim não dá para matar muitas saudades.

O Miguel e a Joaninha também cá apareceu e dormiram cá em casa. Foi boa a companhia, foram bons os passeios, foi bom tê-los cá :) Foi bom ver-vos, falar-vos, mostrar-vos, ouvir-vos, rir-me, apreciar-vos :)


Entretanto fiz um aperitivo para os meus anos cá em casa, pequenino, de dia 23 para 24. A vontade revelou-se pouca, senti-me estranha, não me apetecia ser o centro das atenções, ao ponto de ter sido raptada pela Marta e a Giada que me levaram à rua e me puseram no right mood. Cocktail no Pino, conversa de meninas, fofocas, risos, 'bora lá aproveitar as pessoas masé.

Estavam muitos amiguinhos. Faltava o James, o Konrad, o Thiago que estavam fora de Bologna. Faltaram os meus conquilini rapazes. Mas estava cá muita gente importante :)

Comecei a animar. Já estava feliz com a minha festinha. Sem dar por ela, chegou a meia-noite e um bolo com as velas mais giras de sempre. A Giada fez-me o favor de o cortar. Era mesmo bom :) Depois chegaram as prendinhas, ye! O vestido personalizado da minha M, o chocolate suíço da Emma, os collants do André, o livro do Andrea, a ventoínha-flor dos outros, a folhinha com as dedicatórias! Sabe mesmo bem! Ah, e até um balão da Hello Kitty recebi, ye!




A noite acabou na Piazza Sto Stefano, mais cheia do que eu a alguma vez tinha visto. Companhia até casa e acordar cedo no dia seguinte. Limpei a casa, nem parecia que tinha havido uma festa antes.

O meu dia de anos foi passado a passear com o Miki e a Jo. Mostrei-lhes a Bologna adormecida, morremos de calor, comemos muito pão, tivemos uma tarde de Giardini e aperitivo no MAMbo.


Foi bom, foi natural, foi mais um bom dia. :) E agora volto à rotina com encontros no Irish Pub, gelados na Sto Stefano e guitarradas.

P.S.: O calor está a matar-me. Mas a matar-me mesmo. Tenho de fugir daqui.

O Nuno. A Ana. A Carlota que há de chegar. O ser tão normal estarmos todos. Somos os mesmos! O Nuno a dormir cá em casa e ser il sesto, a Ana chegar a Bologna e ser a Ana em Erasmus, louca. A grigliata em casa do Konrad, a conquilina espanhola e a italiana, a Piazza Sto Stefano. Tudo tudo tudo! A Martinha e a sua genialidade!

O Fábio que foi embora. O calor insuportável. A minha janela que abriu ao fim de 8 meses, mas que já não fecha mais. A corrente da bicicleta que saltou. A companhia sempre. O reencontro de pessoas afastadas à bruta. A Giada com o melhor humor do mundo. A Kalen que voltou da sua viagem a Marrocos.

A casa cheia e sem saber onde vou pôr a dormir as pessoas. Os meus anos que se aproximam e a vontade de fazer uma festa não cresce. Gosto demais do meu dia-a-dia, não preciso de mais.

Tempo Bologna

Eu sei que é maravilhoso, está bom tempo e tudo isso.

Mas... e uma praia em Bologna?

Seria de sonho.

Kaos

Ontem, finalmente, ao fim de 8 meses, fui ver um jogo de futebol do Thiago. Era já jogo de elimatórias, precisavam de ganhar por 3 golos. Se ganhassem, continuavam. Se perdessem, o Thiago podia ir finalmente na sua grande viagem pela Europa.

Perderam. Ficaram tristes, mas tudo bem. Fomos todos aos supermercado, comprámos carne e cerveja e preparámo-nos para uma grigliata em casa dos jogadores. A senhora do COOP parecia que estava em sintonia connosco e não nos fez pagar as cervejas.

Salsichas, espetadas, costeletas e outras coisas que tais. O resto do esparguete à bolonhesa do almoço dos rapazes, batatas fritas e as garrafas a refrescar.

Devagarinho, como nas festas dos miúdos, a conversa começou a fluir, a varanda cheia de nós, o Thiago a demorar horas a fazer a mala, a antecipação das primeiras despedidas a sério de Erasmus.

O sol já se tinha posto há umas horas, levei uma cadeira para a varanda, falámos português de Portugal (o Dams foi ao prado.), jogaram ao jogo das perguntas. Na sala ao lado, quem está a jogar? Faltam 7 minutos, faltam 3, acabou. O inevitável, o "vou embora, Marta Trindade" da Marta, o autocarro perdido, o ficar. Os collants que se romperam sozinhos. Acordar com cheiro a carne, a brisa matinal. O autocarro perdido de novo, parece que estamos num país de 3º mundo, as testemunhas de Jeová, porque vocês têm os olhos muito bonitos.

A bici à minha espera, a minha casa quente e uma bela sesta.

Para o jantar, a Marta e o James vieram cá para casa e aventurámo-nos a fazer gnocchi desde a fase 1 de descascar batatas. A farinha superou todos os sabores, mas o sugo da Marta safou tudo.

Amanhã recomeça o estudo e começam as visitas.

P.S.: Tenho de voltar a tirar fotos. A minha máquina já teve umas férias demasiado prolongadas.

Voltei há uma semana e o dia-a-dia já foi retomado.

Depois da visita do Lisbon e do passeio o dia inteiro, do gelado e da sesta, no dia seguinte constatei que há amigos que são amigos mesmo que não nos vejamos há mais de 2 anos. A Mariana da Multiway apareceu aqui, enquanto visitava umas outras amigas, e demos por nós a conversar tanto tanto como se nos tivessemos visto todos os dias. Quando na verdade já não nos viamos desde a nossa experiência americana.

O Giardini continua agradável, mas agora só à sombra, porque o calor é muito. Está abafado, quente, mesmo quando não há sol. Traz moleza.

Como planeado, fiz um aperitivo cá em casa com os enchidos e os queijos que trouxe de Portugal, acompanhados pelo belo vinho tinto de reserva. Os cá de casa gostaram muito :)

Entretanto a minha bici já está finalmente pronta e boa e como nova! :) Já tinha saudades, que bom já poder chegar mais rápido aos lugares. Que bom que bom :)

A partir de amanhã, chegam as visitas portuguesas que vêm invadir Bologna, ye!

Back again

Depois de mais uns reencontros, de um jantar no sushi e a elaboração de planos loucos, de um almoço infindável de família de quem já tinha demasiadas saudades, de um último cafézinho, de um super abrigo no Porto, voltei.

Bologna recebeu-me com um calor a caminho do insuportável, com os seus meros 25ºC às 9h da manhã. Agora ainda se suporta. Daqui a uma semaninha vamos ver. E a minha casa é tão quente, tão quente...

E hoje recebi uma muito agradável visita do Sr. Lisbon e soube-me muito bem passear e adormecer um bocadinho no Giardini em boa companhia.

Bologna é tão maravilhosamente diferente em vestidos de Verão :)

Re-

Recordar. Relembrar. Reler. Rever. Resentir. Reviver. Re. Re. Re.

Buscar a mana ao ballet. Jantar calmo em casa. Bacalhau com natas! Dar um beijinho à Avó. Né, ir buscar-te a casa. O meu jipe, que saudades. Nuno, Carlota, Bologna!

Tratar de mim. Cabeleireiro. A Valdete que não está. Baixa, Chiado, turistas. Falar com duas alemãs, ver italianas nas lojas, sorrir. Ser estranho ouvir calão. Ouvir português e ainda olhar entusiasmada, mas falam todos, falam todos. Almoço com a Mãe. Sesta. Jantar na Avó. Primos, prima. Ana Cláudia, Luiza, Né. Levar a prima Inês ao Bairro Alto pela primeira vez.

O enorme abraço da Joaninha. O Miguel, o Fran, o Pinto, a Daniela. O Pacheco lá dentro a passar som. WAP. O Lábios de Vinho, a esquina, o Renato, a Marta Jales, a Diana. A Mia, a outra M que falta! Os caloiros. A caipirinha que não chegava, voltar ao Suave. O Manel. Mariana Ferreira, Inês Mota e outros e outros. Mensagem do Lisbon:)

Santos? Conversa, sorrir pelos outros. O táxi, o jipe longe e a ida desfocada para casa. Dormir no chão, dar a cama à priminha.

É bom sentir a minha vida aqui. De novo.

"Estás igual, estás igual!"

Bologna-Lisboa = 25 horas

De facto, demorei 25 horas a chegar da minha casa italiana à minha casa portuguesa. Mas foi porque quis. Há cerca de um mês atrás, decidi aproveitar o meu primeiríssimo ímpeto de vir a Portugal e comprei o primeiro bilhete barato que vi. Sem me dar tempo para analisar o que é que essa baratice implicava.

Implicou bastante. Mas um bastante que me apeteceu, uma semi-aventura nos meios de transporte para à qual estava preparada. E a verdade é que em nenhuma das 25 horas me arrependi.

Saí de casa por volta das cinco e meia da tarde. Apanhei o 30 com a Marta, despedi-me na Marconi, ao chegar à estação vi o André, liguei-lhe a despedir-me, cheguei, comprei o bilhete, fui para o binario. Apoderei-me de 4 lugares, para mim, para a minha mala gigante, os meus pés, as minhas tralhas.

Mudei de comboio 3 vezes. Bologna-Parma-Milano Lambrate-Milano Bergamo. Eram 22.13 quando cheguei ao destino ferroviário. Comprei uma sandes, esperei pelo shuttle até ao aeroporto, só quando chegou é que me lembrei que não tinha comprado bilhete, fui à máquina, quando voltei, o shuttle já tinha ido embora. Esperei mais 40 minutos.

Aeroporto. Imeeensas pessoas a dormir no chão, instaladas, a ler, a ouvir música, a conversar. À espera. Decidi acabar o livro que tinha começado no início da viagem.

Tao of Pooh.

Também eu ansiava. Não pelo avião, mas pela Teresa Rato e o Stefan que feitos maluquinhos decidiram vir passar a noite ao aeroporto comigo.

Conversa conversa, que bom, saudades tantas que eu tinha! Tivemos de mudar de lugar, eles dormiram, eu tratei do check-in. Tomámos um pequeno-almoço às 5 e meia da manhã. Despedidas. Embarquei. Amei amei amei teres vindo ter comigo! Só mesmo tu, T :)

Dormi finalmente! De cabeça apoiada na mesinha da frente. Cheguei ao Porto. A primeira frase que ouço num belo português: "Está um tempo mesmo chocho." - Bem-vinda a Portugal! :)

Estranhei a língua e os letreiros em português. Segui os que me levavam ao Andante. Apanhei o Andante até à Trindade e troquei em direcção a S. Bento. Procurei ansiosa a estação de comboios e andei rápido.

A Ana! Tinha a Ana à minha espera :) Num abraço para matar saudades! Escapámos para um cafézinho e pedimos um cappuccino, como teria de ser. A conversa começou e não parou mais. Sempre na mesma mesa, nas mesmas cadeiras, na mesma partilha, chegou a hora de almoço, da salada de bacalhau e do roast beaf. Passou-se a hora do almoço e a conversa não tinha fim. O senhor disse que já tinha mudado a estação de novo, teria de levantar a mesa. Só a responsabilidade nos fez ir embora. Eu dentro do comboio, tu fora. A porta a abrir e a fechar, as palavras que ficam a meio, mudas, mas que retomavam tom no segundo seguinte. Até ao até já! Que bom a nossa conversa não ter fim :)

Às 18.50 cheguei a Entrecampos (e não às 19h a Sta. Apolónia, como julgou o Nuno). A Mãe estava à espera e aí soube a regresso :)

Portogallo

Até fico nervosazinha ao saber que vou a Portugal. Mas um bom nervoso, desta vez:)

Tenho vontade, ansiedade, saudades de vos ver.

Até já , até já :)

McDesire

Ao fim de 8 meses nesta terra, tive desejos de McDonald's. É certo que já o tinha comido em Bologna, em passeios com o P., ou em noites de desespero antes do Millenium, ou com a Ordem dos Cavaleiros da Torta da Nonna. É verdade que impedi a Verinha e a Carlota umas quantas vezes. É verdade que em viagens fora de Bologna também ia lá parar de vez em quando, porque era rápido e, acima de tudo, mais barato.

Mas ontem tive um desejo alucinante. Mesmo!

Saí de casa sozinha e fui comprar comida sozinha. Paguei balúrdios (nada se compara à borla em Portugal) e fui sentar-me na Piazza Maggiore sozinha.

Sim, parece muita solidão. Mas foi dos melhores Big Mac's que já comi. O molho era diferente. Eu sei que o molho é o que dá a essência ao Big Mac, mas este era bem melhor! As batatas ficam atrás, claro. E o sundae de caramelo é muito pequenino e quase o dobro do preço.

Mas foi um belo jantar! Acompanhado até de um concerto de índios, só com pessas estranhas a dançar à volta.

McDonald's: estarás para sempre no meu coração!

Dia da Mãe

Em Portugal o Dia da Mãe é antes de (quase?) todos os outros países.

Itália, Estados Unidos, Brasil...

Deve ser mesmo porque temos as melhores Mães do mundo que merecem o 1º lugar :)

O calor dá saúde, traz conversas, mini-sestas, novos livros para ler. Traz amigos, une amigos sobre a mesma manta, puxa confissões, espalha a partilha.

Até já, lusitanos. Estou já a chegar.